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Não é muito difícil de entender, porque essas realidades conflitantes da nossa vida, é que fazem a própria vida. Alegria e tristeza, morte e nascimento, claridade e escuridão. Uma depende da outra. É como se uma não existisse se a outra não existisse. E até um aspecto interessante, meu nome, como leigo, foi Meihō – “Mei” significa claridade. Meihō é “pico da claridade”. No nome Genshō, “Gen” significa “profundo, escuro, ensinamento”, e “Shō” excelente.
Então, na realidade, o nome Meihō e Genshō tem os dois aspectos, de um lado pico e clareza, do outro profundo e escuro. Profundidade e ensinamento. Os dois aspectos estão juntos e é como se nós disséssemos, eles não se contradizem. Nem o ensinamento profundo, nem o pico da claridade estão em conflito um com o outro. Na realidade, um complementa o outro. Um mostrando em cima e outro embaixo, o claro e o escuro. As duas coisas juntas, na realidade, formam o absoluto. As diferenças são o relativo. Claro, escuro; as diferenças, as oposições, tudo junto, o absoluto. Na realidade, escuro, não tem nada de pejorativo aqui.
Ela invoca o sentido do mundo absoluto, ou seja, igualdade universal do grande vazio, sem forma, desprovida de qualquer claridade nem qualquer discriminação. Por outro lado, a comparação de claridade caracteriza a discriminação relativa, e devido a essa clarificação para os seres, torna-se possível a distinção de cada coisa no universo. Outro binômio de princípios opostos é dependência mútua, ego e independência.
São termos que permeiam o Sandōkai e expressam o cerne desse poema. Na dependência mútua, os sujeitos de seres e coisas distintos, que por natureza se opõem, relacionam-se de forma recíproca e solidária resultando na união deles. Na independência, a liberdade é preservada, em que os seres e coisas permanecem em sua condição de singularidade e individualidade.
À primeira vista, sob um olhar relativo, esses pares parecem contraditórios, polarizados e antagônicos. Porém, sob um olhar amplo e genérico, ou seja, na igualdade universal única, eles não mais divergem e acabam por se juntar, formando uma unidade. Mais adiante, Mokugen acrescenta: “a filosofia por meio de teorias, usando principalmente os conceitos e o pensamento, tenta solucionar tais choques e contradições”.
Mas no Zen, por meio da convergência de dois aspectos aparentemente opostos, consuma-se a unidade absoluta, dissolvendo assim as contradições. O Budismo, especialmente a Escola Mahayana, por meio de duas visões, prática e teoria, traz as soluções, promovendo uma vida de unidade e harmonia, tornando claro o mundo da plenitude sem obstáculos. Por isso, categoricamente, o Zen abomina a sistematização e estruturação de conteúdos sob formas puramente teóricas.
As experiências processadas no zazen não são incorporadas de maneira teórica, mas são absorvidas como experiências viscerais, longe dos pensamentos puramente intelectuais. Portanto, ao ouvir o Sandōkai, nós estamos procurando entender essa unicidade dos opostos. Os opostos estão juntos, está traduzindo o poema.
Portanto, no estado do perfeito zazen, a essência promove a unificação de todos os aspectos antagônicos e contraditórios em algo único. Contudo, graças à realidade relativa, que apresenta aspectos opostos, cada ser e cada coisa pode manifestar livremente sua individualidade e singularidade. Justamente a existência e o uso de pensamentos duais e relativos, tais como fonte original e afluentes, verdade universal e cada coisa, dependência mútua e independência, claridade e escuridão, aí se proporciona uma fusão e a unidade desses pares de opostos.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual 6 em julho de 2024.