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Hakue-san: Podemos entender que a agitação da mente está diretamente ligada ao desejo? Ou seja, quanto menos temos, mais sentimos nossa unicidade com todas as coisas?
Genshō Sensei: Não necessariamente. Porque tanto faz se você tem ou não tem, a unicidade é a mesma coisa, se você tem um problema não é com a posse em si, mas sim com o seu apego ou aversão, com o fato de você estar agarrado a algo. Esse agarrar-se, estar ligado a uma coisa por um desejo, por uma necessidade de ter, isso sim é que é o problema. Se a mente não estiver dominada por esse tipo de sentimento, tanto faz. Porque na verdade, todas as coisas são suas.
Uma vez eu estava passando na rua com uma moça e ela disse “Ah, que linda aquela árvore florida, eu queria tê-la”. E eu respondi “Mas você a tem. Você está vendo essa árvore florida não está? Então você a tem”. Para que nós temos que possuir? É como quem vê um belo pássaro e pensa “Ah, vou colocá-lo numa gaiola”.
E essa pessoa que faz isso não entendeu nada e não viu as coisas do ponto de vista do pássaro também. Você gostaria de estar numa gaiola para ser olhado? Isso é tão simples de perceber.
Monge Nenshō: Como discernirmos o Caminho do Meio? No tempo de Buda, haviam regras que hoje, para nós, seriam muito pesadas, mesmo para monges. Porém, houve uma readaptação destas regras para o nosso tempo. Então, o que era o Caminho do Meio antes, não é mais hoje?
Genshō Sensei: Os mestres vão adaptar a prática aos seus tempos de acordo com a necessidade e não vamos considerar se é o Caminho do Meio ou não. Se você precisasse caminhar até o professor para ouvir uma aula, ou simplesmente ligar seus computadores, conectar-se à internet e ouvir uma aula. É muito mais fácil hoje e há algum problema nisso? Não. O Caminho do Meio significa não exagerarmos, nem apertarmos demais as cordas da cítara, nem deixarmos frouxas, porque frouxas a cítara não toca. E apertadas demais, as cordas rebentam. Então o Caminho do Meio é ter sensatez e moderação.
Cynthia-san: Por que então a recomendação em relação a roupas, maquiagens, parte do corpo aparece aqui no Daissen?
Genshō Sensei: Estamos, na verdade, nos reunindo para praticar juntos. E quando estamos juntos, em comunidade, tentar não aparecer ou se destacar é uma prática importante para o ego.
Para não manifestar vaidade, não tentar ser melhor, mais bonito, mais perfumado, etc., mais bem maquiado do que outra pessoa.
Por causa disso, na prática monástica e na prática em conjunto, na sangha, há a recomendação de ser modesto e não chamar a atenção. Por essa razão, há a recomendação em relação a esses detalhes que você acabou de citar, trata-se de uma prática, uma técnica de não chamar a atenção. Nada mais do que isso.
Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual 6 em julho de 2024.