Décimo Elo da Originação Dependente: Bhava – Parte Final | Monge Genshō

Décimo Elo da Originação Dependente: Bhava – Parte Final | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

Então, fazemos zazen, penetramos no mundo de Dhyāna, por exemplo, e o mundo parece mais bonito, mais calmo, mais belo. Vemos isso e surge uma sensação de contentamento. O que mudou? Não mudou nada no mundo em volta. Mudou seu universo mental, sua visão. E isso atinge um máximo com as experiências de Kenshō, em que tudo deixa de ter o sentido que tinha antes. Por isso, aparentemente, aos olhos do mundo, aquele praticante que chega a esses níveis parece que enlouqueceu.

Ele mudou tanto que as coisas que antes o interessavam não interessam mais. E até os mundos em que ele transitava deixam de ser interessantes. Ele quer simplesmente se afastar daquele mundo, porque o seu universo mudou, tanto que ele se descobre em outro universo.

Por isso nós explicamos que Saṃsāra e Nirvāṇa não são lugares. Saṃsāra, o mundo da perambulação, de procurar a felicidade, é o mundo que você enxerga. Mas se você trocar seus olhos, esse mesmo mundo, que é o mundo do Saṃsāra, passa a ser o mundo do Nirvāṇa.

Um mundo sem paixões, que é o que na realidade significa a palavra Nirvāṇa. Significa fogo extinto, porque aquela turbulência se extinguiu e porque a turbulência se extinguiu, então, se estabelece uma grande paz. Essa chama-se Nirvāṇa. Então, Nirvāṇa, na realidade, é uma maneira de ver, não é um lugar, não é uma construção do mundo externo.

Quando você coloca as coisas no mundo externo, “ah, os outros não são quem eu espero”, “a sangha não se comporta como eu penso que deve se comportar”, “há pessoas erradas, ou mesmo mestras, que não se comportam como eu gostaria que fosse, como eu idealizei”. E, na realidade, isso é só a sua visão. É porque você está vendo assim que o mundo parece ser assim.

Agora, se você muda sua mente, o mundo automaticamente muda, porque é outra coisa que você enxerga o que você está vendo. Só pessoas em mudança, fluxo e as imperfeições são naturais. E até, para este olhar, as imperfeições passam a ser parte da própria beleza.

Por isso tantas vezes aparece na arte, influenciada pelo Zen, a imperfeição. Porque a imperfeição e a falha na construção, no objeto, por exemplo, é parte da sua própria beleza. Como naquela história do pátio bem varrido, o mestre manda varrer o pátio, o aluno diz que está muito bem varrido, mostra ele e o mestre diz que não está bom, porque não tem nenhuma folha no chão.

Ele vai até uma árvore, sacode a árvore, algumas folhas caem naquele chão tão bem varrido. E aí o mestre diz, agora sim, isto é um pátio bem varrido. O despertar vê que as formas de visão são produto de Avidyā.

Todas as formas de visão são produto da nossa própria ignorância. Então o despertar enxerga isso. Quando há um despertar, todas as formas de visão são apenas isso, formas de visão.

Por isso surge um mundo sem comentários. A prática do zazen tem isso embutido. Pede-se: não julgue, não faça nada, nem com seus pensamentos, nem com seus zazen. Não se critique, não critique nada. Não tente impor sua visão de perfeição sobre o mundo. Por quê? Porque as formas de visão só existem a partir da ignorância.

Uma visão desperta vê o pátio com as folhas caídas como belíssima. Ela vê o fluxo. Folhas têm que cair. Se estiver completamente varrido, sem nada, é artificial. Por isso, a beleza no fluxo, na própria imperfeição. A imperfeição dos outros também é essa. Faz parte da beleza da humanidade.

E a última consideração: quando o Buda diz “Eu despertei e toda a Terra e todos os seres despertam junto comigo”. Na verdade, não quer dizer que os seres despertaram, mas sim que todo o universo muda porque ele mudou o seu olhar. E por isso o universo inteiro desperta junto com ele.

É quando você desperta das suas ilusões: todos os seres, todas as coisas despertam junto com você porque o seu universo mudou. E é isso que significa Bhāva. O estado do ser é o elo que cria um universo para nós. Não é um universo desperto, é um universo que veio da ignorância. Por isso, o décimo elo é o universo tal como é construído com o nosso olhar.


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual.