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Outra dupla de vocábulos muito importantes é cada coisa e todos os seres e coisas. Cada coisa corresponde à concretude relativa da imensa variedade de coisas e seres existentes no universo. “Verdade universal” refere-se ao “grande vazio universal, sem forma”. Cada coisa é a verdade universal, até então não eram termos associados ao Budismo tradicional. E este é um exemplo de como voluntariamente o pensamento chinês aprendeu e assimilou o Budismo à sua maneira.
Dessa forma, a escola Zen utilizou seus próprios termos e evitou cada vez mais os vocabulários da terminologia comum. O Zen abomina taxativamente os dogmas doutrinários, como também os pensamentos conceitualmente estabelecidos e obsoletos. Por isso, os princípios dessa escola, significam exatamente o não estabelecimento de palavras e conceitos, na transmissão da essência do caminho Zen.
Consequentemente, no Sandōkai, praticamente não foram utilizadas palavras do Budismo tradicional arcaico, mas palavras naturais, diretas e espontâneas. Então, essas expressões são especialmente características da escola Zen. Quase exclusivamente os professores do Budismo tradicional tão somente realçavam as letras dos sutras e a explicação das suas doutrinas.
Considerando-se que o verdadeiro espírito do Budismo vinha se perdendo, os mestres Zen esclareceram que o correto não é baseado apenas nas letras e nos ensinamentos teóricos dos sutras. No Zen, a experiência, então, torna-se algo muito importante, pois a transmissão é feita de mente para mente e de coração para coração. A partir de então, esse espírito precursor foi especialmente realçado pelo Zen do sul da China e seus sucessores, em particular sob o sexto patriarca Huìnéng, Daikan Enō, na nossa recitação matinal, que viveu na Era Táng.
O Zen, com Bodhidharma, começa com a declaração de que a transmissão tem que ser de mente a mente e não através de grandes elaborações teóricas, ou através de palavras. Então, dentre as várias linhagens do Budismo, apenas a escola Zen é caracterizada por ensinamentos fora dos princípios tradicionais. Essa expressão foi primeiramente proclamada pelo mestre Bodhidharma.
Significa que os princípios da escola Zen não estão dentro das escrituras convencionais, nem dentro das letras, mas fora desse contexto. Tanto a intuição como a apreensão direta, franca e sem rodeios de espírito ensinados nas escrituras foram notavelmente enfatizadas. Especialmente a partir dos mestres das eras Táng e Song. Ou seja, esse chamado período áureo do Zen, entre os anos 960 e 1279 da China, que é a chamada Era Táng.
O essencial desta aula de hoje, é esse conceito de que a transmissão no Zen é de mente a mente e não através da elaboração intelectual. Se pensarmos através de raciocínios e elaboração intelectual, o Zen se perde.
Por isso, no Zen, o mais importante de tudo sempre é a experiência. Portanto, quando fazemos Zazen, é que estamos na realidade praticando o Zen. E devemos fazer Zazen todos os dias. Sete dias por semana. E uma vez por semana a gente ouve uma aula teórica, pela qual eu peço desculpas.
O nome do livro é Identidade do Sandōkai, Identidade do Absoluto e do Relativo, e Hōkyōzammai, o Samadhi do Espelho Precioso, que é um segundo poema. autoria de Mokugen Rōshi. Agora, leve em conta que do livro em si, estou pegando pequenos trechos, às vezes em uma página, apenas, uma frase para comentar e, se você for lê-lo integralmente, prepare-se para um tratado mais profundo com um toque acadêmico.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual 29 em junho de 2024.